Eram
passadas 35 minutos da meia noite, no dia 23 de Dezembro de 1972, que eu
presenciei um dos acontecimentos que entre outros, iriam marcar a minha alma nesta existencia, na minha passagem neste planeta de provas e expiações : o terrível terremoto que em questão de menos de meio minuto,
destruiu o centro da capital da Nicarágua : Managua. Tinha 12 anos na época e recém
tinha me mudado para morar com a minha irmã (por parte de mãe) num bairro perto do centro da capital, pois meu pai tinha falecido no começo do ano e a minha mãe
não tinha condições económicas para se auto sustentar.
Era véspera de
natal e as ruas e o comercio se encontravam enfeitadas, lotadas, recebendo visitantes de
outras localidades estando por tanto os hotéis, pensões e pousadas e casas de parentes cheios . Nessa
noite houveram dois pequenos tremores de terra- que são comuns na terra de lagos e volcaês- que passaram desapercebidos pois a maioria se
encontravam no frenesi do consumo percorrendo as lojas.
Duas horas
depois, uma sacudida de terra estrondosa, que lembro como se fosse hoje, nos
acordou seguido dos gritos da minha mãe clamando por Deus, correndo para junto dos netos e de mim para
com um abraço tentar nos proteger. Segundos depois foi a vez da minha
irma e cunhado se juntar, e assim que a terra parou de tremer, saímos todos
correndo para fora da casa tropeçando nos moveis pois não havia energia elétrica.
La fora os
vizinhos também em pijamas em estado de choque gritavam: TERREMOTO! No horizonte
podia se ver o céu avermelhado e cheio de fumaça. A lua cheia parecia
ensanguentada. Esse sinal já fora percebido antes da tragédia . Era um pesadelo de magnitude 6,2 da escala de
Ritcher (que mede a energia liberada por um terremoto e que vai de 2,0 e 6,9) e
que em questão de segundos deixou aproximadamente 19,500 mortos (esses números são
aproximados pois teve corpos que nunca foram possível de resgatar dos escombros
dos prédios que caíram) e mais de 20 mil feridos além dos prejuízos materiais de
toda a infraestrutura da capital da nação destruída.
Assim que
passou o susto, nos dirigimos a pé a casa do meu outro irmão que morava
num bairro pegado ao nosso. Foi ali que começaram a chegar notícias do que tinha
acontecido no centro da capital, distante a uns 10 minutos de carro. Pessoas feridas e mortas começavam aparecer trazidas por parentes que moravam no bairro, pois os hospitais e postos de saúde, estavam a maioria destruídos
e outros semidestruídos.
Assim que amanheceu,
eu corajosamente decidi ir para ir pra casa tentar pegar leite para
meu sobrinho que era bêbê apesar dos protestos da minha mãe e irmã pois existia a possibilidade de novos
terremotos, mas mesmo assim me dirigi pra lá e percebi que a casa estava em pé porém com varias rachaduras nas paredes; qual não foi o meu susto que
quando vinha no caminho de volta aconteceu um novo tremor de terra, mas que desta vez senti nas plantas dos meus pês (no anterior eu estava
dormindo). Foi uma sensação apavorante sentir que o chão que te
sustenta vira um pudim e começa a balançar! Corri para me proteger embaixo de uma árvore e segundos depois que parou o tremor comecei
a vomitar!
A casa dos
meus irmãos, assim como as outras casas do bairro quase não sofreram danos
porque eram longe do epicentro do terremoto -que foi no coração da capital- e
também porque tinham sido construída com material moderno (cimento) – a maioria das construções
do centro eram construções antigas feitas de um material mistura de cimento e
barro.
Horas depois
embarquei no jeep, com meu cunhado para tentar chegar perto do centro para
saber do paradeiro de alguns parentes e amigos mas fomos impedidos pelas forças policiais e pelas enormes rachaduras que surgiram nos solo assim como os incêndios que se alastravam por
todo lugar, agravado pela destruição do prédio
do único corpo de bombeiro e pelo rompimento das tubulações de agua; estes incêndios
iriam durar cerca de alguns dias e somente foi controlado graças as bombeiros
de outros municípios e países que chegaram ajudar. Todos os serviços públicos deixaram
de funcionar: agua potável, telecomunicações, esgoto, energia elétrica, etc. e quase
todos os hospitais foram derrubados. A indústria que funcionava na capital
assim como o comercio na sua grande maioria, tudo veio abaixo! 600 quarteirões
ficaram destruídos e mais de 50 mil vivendas viraram escombros. Aproximadamente
300 mil pessoas ficaram de uma hora para outra sem lar!
Gente fugindo por todos os meios possíveis,
levando consigo somente a roupa do corpo. Encontramos no caminho muitas pessoas feridas com curativos improvisados. Eram gritos choros por todas as partes. Algumas
pessoas imploravam por uma carona outros por um copo de agua e nós sem poder
dar nem um nem o outro! Eram cenas dantescas de filmes que futuramente iria ver
nas telas de cinema e TV que tratam de tragédias coletivas.
Quem teria me dito que iria presenciar algo parecido 7 anos mais tarde na revolução sandinista de 1979 da qual infelizmente participei! Dor e sofrimento coletivos!
Acredito no carma, individual e coletivo. No caso da minha pátria Nicaragua o carma coletivo é pesado: com guerra, ditaduras corruptas, terremoto, pobreza (junto com Haiti somos os 2 paises mais pobres da américa) . Na minha pátria adotiva Brasil não tem TODO esse carma coletivo. Somente a corrupção! Pelo menos até agora!.
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